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Adeus, Maraca
maio 18, 2011

Vi hoje o projeto de cobertura do Maracanã. Uma pena que não tenha dado para levar o meu filho naquele que foi o maior e melhor estádio do mundo antes de ele acabar. O Maracanã não conseguiu resistir aos defensores do futebol moderno e foi definhando aos poucos.

Primeiro foram as gerais. Com o fim do espaço dos ingressos populares, sumiram do Maracanã aquelas lendas carnavalescas que hoje em dia só vemos nas corridas de São Silvestre: o Super Homem, o Mister M, o Michael Jackson, o Batman, a noiva. Outros iam pintados, levando cartazes com recados. Era beijo pra mãe, feliz aniversário pra sobrinha!, pedido de aumento pra patrão, palavrão pra jogador.

Depois vieram as cadeiras, que, além de diminuírem o espaço no estádio, tornaram tudo mais desconfortável para quem não consegue assistir ao jogo sentado. Agora se foram as arquibancadas, os vestiários, banheiros, salas de rádio e camarotes, tudo embora.

Provavelmente, quando for reaberto para a Copa do Mundo de 2014, as cadeiras estejam estofadas, os torcedores estejam separados do gramado por vidros blindados, um moderníssimo telão em LED esteja instalado lá no alto, mostrando todos os lances duvidosos da partida e acabando com outras lendas do futebol, como o “juiz ladrão”. O ingresso, bem, o ingresso terá o seu preço condizente com essa realidade européia do ex-Maracanã e cada vez mais longe da realidade do povo brasileiro.

Nós teremos sido afastados do estádio em definitivo: torcedores de sol e de chuva; que, nervosos com o placar, não conseguem assistir aos jogos sentados; gordos de tanto comer pernil e beber cerveja com os amigos na porta do estádio e que não cabem nas cadeiras. Desdentados, trabalhadores e maloqueiros, que atiram suas baquetas em jogador adversário quando ele faz gol, que carregam bandeiras pesadas e sentem as dores musculares no dia seguinte. Nós, torcedores da batucada, da fanfarra, da bagunça, da gritaria.

É bem provável que nesse novo estádio, ex-Maracanã, não se escute mais os cantos das torcidas: altos falantes devem reproduzir músicas da Lady Gaga enquanto jogadores milionários firulam em um gramado importado, belíssimo, sem nenhum buraquinho sequer.

O futuro do futebol é o fim do futebol. Esse futebol que nós conhecemos é cada vez mais desconhecido. Esse futebol que, por muitas vezes, é o único choque de realidade dos espectadores de atrações sob o ar condicionado. O futuro do futebol nunca pegará uma gripe depois de ver o seu time perder em uma quarta-feira de chuva. Nem terá insolação após presenciar uma vitória do seu time debaixo de um sol de rachar mamona em um domingo de verão.

O futuro do futebol é pálido, branco, plástico. Não grita, usa banheiro limpo, não se manifesta, não se indigna. Não se mexe, não chora, não sorri. Ele aplaude o fim da partida e depois sai para jantar, em fila, organizadamente.

Sinto pelo meu filho, que fará parte da geração dos estádios cobertos. Particularmente, eu acho que a dificuldade, qualquer que seja ela, molda o caráter das pessoas. Vai ser difícil acreditar em mudanças com toda uma geração criada sem tomar sol e sem tomar chuva no estádio, sem fugir da polícia, sem pegar fila para comprar ingresso. Até da fila – maldita, porém democrática fila!-, sinto saudades nesse atual cenário.

Adeus, Maracanã. Adeus, futebol.

Associação Nacional dos Torcedores
outubro 19, 2010

Ontem estive na frente do Pacaembu para encontrar com outras 40 pessoas interessadas em recuperar o direito do torcedor a ir aos jogos, a viver o futebol. Com a desculpa da tal “modernização” do esporte, o acesso às partidas está ficando cada vez mais difícil, até se tornar impossível. Pensando nisso, foi fundada a Associação Nacional do Torcedores, uma ideia que surgiu no Rio de Janeiro e com ramificações por todo o País.

Na noite de ontem; apesar do frio, do impedimento de utilizarmos a frente do Museu do Futebol para nos reunirmos e do barulho infernal dos carrinhos motorizados na Praça Charles Miller; fundamos o núcleo de São Paulo. A Associação Nacional dos Torcedores não tem clube, não defende interesses de cartolas ou de partidos políticos. E é mais uma sarna para eu me coçar.

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Para saber mais, acesse www.torcedores.org.